Cloroquina: Antes de se tornar a droga da vez, a cloroquina tinha sua utilização voltada para tratamento dos casos de malária, artrite reumatoide e lúpus. Atualmente, vem sendo considerada como uma das promessas no tratamento dos pacientes acometidos pelo novo coronavírus.
Com este novo dado, a busca pelo medicamento em farmácias foi significativa e em poucos dias o produto estava em falta em todo o Brasil. Os médicos tem alertado à população sobre os riscos da auto medicação e sobre os efeitos colaterais da droga.
Dentre outros efeitos colaterais já bastante divulgados na mídia, gostaria de ressaltar a possibilidade de zumbido, perda auditiva neurossensorial e tonturas após o uso do medicamento. Dentre eles, a perda auditiva é a mais comum, normalmente se apresenta nas duas orelhas de grau leve a moderado. A ototoxidade da cloroquina é em geral irreversível, apesar de poucos estudos mostrar um certo percentual de reversibilidade.
Quando ingerido, o medicamento é completamente absorvido pelo trato gastrintestinal, pouca quantidade é eliminada, sendo a maior parte depositada nos tecidos e por este motivo o desaparecimento de sua ação é muito lento.
Estudos com ratos evidenciaram presença de concentração de cloroquina nos tecidos que contem melanina no ouvido interno, correspondentes à estria vascular, modíolo, paredes do saco e do utrículo e dos canais semicirculares mesmo após 13 dias do uso do medicamento.
Acredita-se que esta concentração possa causar injúria vascular e, por consequência, uma modificação na produção da endolinfa (líquido que preenche as estruturas do ouvido interno) causando assim lesão dos receptores celulares.
Sendo assim, o medicamento deve ser usado apenas após recomendação e orientação médica.
Devemos evitar o uso indiscriminado de medicamentos. Além disso, fica o alerta para as pessoas que eventualmente, durante este período, necessitarem do medicamento: observem o aparecimento de sintomas auditivos e, assim que possível, realizem avaliação auditiva completa.
As informações aqui colocadas são de caráter informativo. Cada paciente possui suas particularidades e deve ser avaliado e tratado de forma individualizada. Se você tem algum problema de saúde, procure um médico especialista.”
Fga Dra Elaine Soares
CRFª 2-8024
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