Deficientes Auditivos: Infelizmente na área de deficiência auditiva, ou surdez como queiram, existem muitas divergências que na maioria das vezes não levam a lugar nenhum. Muitas vezes, são visões equivocadas ou deturpadas sobre o assunto.
A primeira discussão é sobre a terminologia. Devemos falar SURDO ou DEFICIENTE AUDITIVO? Para nós da classe médica a palavra DEFICIENTE AUDITIVO é mais adequada porque ela abrange todo o indivíduo portador de qualquer grau de deficiência auditiva, utilizamos a palavra SURDO apenas para determinar o sujeito com deficiência auditiva profunda. Porém no contexto social, cultural e, principalmente, para a comunidade surda, a palavra SURDO é utilizada para definir a pessoa pertencente à comunidade, geralmente usuária de LIBRAS e não significa apenas falta de audição. Os indivíduos que se intitulam SURDOS vêem o termo DEFICIENTE AUDITIVO, como algo pejorativo, que os coloca como não eficientes e, muitas vezes, não aprovam o uso deste termo.
É comum também ouvirmos algumas bobagens a respeito da deficiência auditiva que gostaria de esclarecer:
TODO SURDO PRECISA APRENDER LIBRAS! LIBRAS É A LÍNGUA DO SURDO! TODO SURDO É MUDO! O INTÉRPRETE É IMPRESCINDÍVEL PARA O SURDO!
Estas afirmações não são verdadeiras, o indivíduo surdo que se beneficia com LIBRAS é aquele que não possui acesso aos sons de fala através das tecnologias auditivas, o que pode ocorrer devido a um diagnóstico inadequado e/ou intervenção inadequada ou tardia ou, ainda, por algum impedimento físico para utilização de certas tecnologias.
LIBRAS é uma língua que é diferente do português falado e escrito e precisa ser aprendida como tal. Se temos um SURDO SINALIZADO (usuário de LIBRAS), que fala e/ou escreve, este é considerado bilíngue. Os SURDOS SINALIZADOS se beneficiam de intérpretes em situações de aprendizado.
Atualmente com os aparelhos auditivos e com o advento dos implantes cocleares, os deficientes auditivos conseguem receber os sons de fala de maneira satisfatória para se comunicar através da FALA e este meio de comunicação acaba sendo mais natural, como é para nós ouvintes. Portanto, se o indivíduo tem total acesso auditivo aos sons de fala através da tecnologia auditiva e se foi estimulado adequadamente é natural a ORALIDADE e é desta forma que ele deve ser inserido na sociedade. Portanto, SURDOS ORALIZADOS na maioria das vezes tem acesso auditivo aos sons de fala, seja através dos aparelhos auditivos ou dos implantes e não se beneficiam de LIBRAS, normalmente dominam o português falado e escrito e não se beneficiariam de intérpretes de libras em sala de aula, mas se beneficiariam de sistemas de redução de ruído (como FM por exemplo).
Estas explicações acima servem também para “derrubar” um outro mito TODO SURDO É MUDO. Acredito que tenha ficado claro que se o indivíduo recebeu estimulação auditiva eficiente ele irá desenvolver e dominar a oralidade como o ouvinte.
Não podemos esquecer ainda dos indivíduos que adquirem perda auditiva ao longo da vida, que já possuem código linguístico estabelecido e que portanto já dominam a linguagem oral quando são acometidos pela perda auditiva. Eles não perderão a fala, muitos podem se beneficiar com as tecnologias auditivas e terem a audição restaurada e outros podem se apoiar na leitura labial para continuar se comunicando.
Infelizmente a maioria das pessoas tem dificuldade de entender que o grupo de pessoas com deficiência auditiva é heterogêneo com necessidades distintas. Muitas vezes, as leis que beneficiam os deficientes auditivos são adequadas apenas para um grupo. Por exemplo, a lei que garante o intérprete na sala de aula. Esta lei, é extremamente útil aos indivíduos que por alguma razão não tiveram acesso aos sons da fala, e necessitam do uso da LIBRAS para garantir a comunicação, o mesmo acontece na obrigatoriedade do intérprete em programas de TV por exemplo. No entanto, esta lei não considera os deficientes auditivos que ouvem através dos seus dispositivos, que não se beneficiariam em nada com o interprete, mas poderiam se beneficiar com escolas com tratamento acústico por exemplo.
Com o avanço das tecnologias auditivas, que podem ser garantidas até pelo SUS, o número de indivíduos que necessita de LIBRAS é cada vez menor. Estamos vivendo uma era que a triagem auditiva é obrigatória na maternidade, o número de aparelhos auditivos existentes é imenso, o implante coclear é realidade e é coberto pelo SUS e pelos convênios, portanto é maravilhoso saber que o grupo de SURDOS ORALIZADOS é hoje maior do que o grupo dos SURDOS SINALIZADOS e é muito triste ver como a mídia em geral, os governantes e a população, ainda não enxerga, este grupo como maioria e não se dedicam a ele quando vai tratar do tema.
O mundo está mudando e precisamos mudar junto! O SURDO ORALIZADO ou DEFICIENTE AUDITIVO ORALIZADO, está sendo inserido no mundo de forma natural, está na escola comum com os nossos filhos, está no mercado de trabalho, consome produtos específicos, está na universidade. Este grupo vem quebrando barreiras a cada dia e as diferenças são cada vez menores. Não tenho dúvidas que eles querem o MUNDO e acredito que o mundo precisa estar pronto para recebê-los.
Em caso de dúvida, consulte um especialista.
“As informações aqui colocadas são de caráter informativo. Cada paciente possui suas particularidades e deve ser avaliado e tratado de forma individualizada. Se você tem algum problema de saúde, procure um médico especialista.”
Fga Dra Elaine Soares
CRFª 2-8024